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Textos e Trabalhos


Marx e a divisão social do trabalho, uma resposta atual
 Por Daniel Rodrigues
Introdução:
Este trabalho é parte de uma análise crítica no que tange à formação da força de trabalho, na 
atualidade. Trata-se do que denominamos do ‘fetiche das competências’. Para fundamentar tal tese, 
buscamos em alguns clássicos, como Smith, Durkheim e Marx, entender qual a contribuição que os 
mesmos apontam para a compreensão da presente realidade em um dos pilares da formação, a divisão 
social do trabalho. Pelo limite do espaço apresentaremos somente alguns elementos a partir de Karl 
Marx.
 Na construção teórica desse modelo hegemônico para formação da força de trabalho, um dos 
pressupostos chave é a diminuição da importância do entendimento de uma sociedade dividida em 
classes. Os autores da ordem apontam a existência de um processo de diminuição da divisão social do 
trabalho   fruto   de   dois   grandes   fatos   motivadores:   primeiro,   o   trabalho   não   é   mais   central   na 
organização societária; segundo, o mesmo foi substituído pela compreensão de uma nova centralidade, 
a da sociedade do conhecimento ou da própria tecnologia que o encarna. Portanto, o que se deve 
construir   enquanto  categoria   explicativa   da   realidade   são  os   serviços,   não  mais   o  trabalho  e   sua 
divisão, e sim essa nova unidade existente na realidade, que expressa o modelo das competências. 
Conseqüentemente, o modelo de formação por competências, apresenta-se como substituidor 
da divisão do trabalho (ZARIFIAN, 2001), por desenvolver integralmente o sujeito - o associado ou 
colaborador,   não   mais   dito   como   trabalhador   -   que   presta   algum   serviço   que   se   incluiu 
harmonicamente no sistema de produção. Assim é posto, ou proposto, um novo perfil da força de 
trabalho   que   reconstrói   uma   ‘nova   unidade’   no   processo   produtivo:   “a   exigência   de   novas 
características   das   pessoas   não   como   funcionários,   mas   como   parceiros   da   empresa 
(CHIAVENATO, 2002, p.34).” 
Diante dessa nova compreensão sobre o processo do desaparecimento da divisão do trabalho, 
bem como das relações contraditórias entre as classes fundamentais do capitalismo, fomos resgatar em 
Marx os fundamentos dessa categoria em desprestígio e recolocá-la diante dessas novas teorias pós-modernas. No caso, o presente trabalho, além de retomar a questão da importância da divisão 
social   do   trabalho,   atualmente,   rechaça   a   idéia   de   que   essa   divisão   está   colocada   somente   no 
entendimento do campo do desenvolvimento das forças produtivas, enquanto um problema técnico. 
Defendemos que, a partir de Marx, o entendimento da divisão do trabalho está inserida na própria 
contradição do desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção dominantes.
Marx e a amplitude da divisão social do trabalho 
Mesmo partindo de Adam Smith e de outros economistas burgueses, Marx realiza uma crítica 
à limitação histórica e conseqüentemente teórica desses estudiosos. Marx vai contrapor-se apontando 
às relações contraditórias existentes entre as classes. Ele ressalta que esse ‘não embate’ é colocado 
pela própria apreensão da realidade da época, de uma luta de classes incipiente e do próprio ‘locus’ 
burguês em que se encontravam esses teóricos. Marx não só se localiza no século XIX, com a grande 
indústria,   com  um   capitalismo   a   todo   vapor,   mas   numa   época   de   revoluções.   Seu   vigor   teórico, 
demonstrado   pela   atualidade   de   sua   análise,   mantém-se   firme   em   defesa   da   transformação 
revolucionária da sociedade burguesa, opondo-se à ideologia dominante. Defende a ciência sob a 
lógica materialista dialética, em que a história é movida pelos homens, pela luta entre as classes, e que 
não basta entendê-la: é necessário agir para sua transformação e abolição da dominação classista 
1 IV Conferencia Internacional "La obra de Carlos Marx y los desafíos del siglo XXI"
existente. É dentro dessa lógica que Marx supera Smith e os outros teóricos burgueses.
O Dicionário do Pensamento Marxista de Bottomore, traz uma leitura sobre a divisão social do 
trabalho nos textos de Marx, colocada da seguinte maneira:
Primeiro, há a divisão social do trabalho, entendida como o sistema complexo de todas as 
formas úteis diferentes de trabalho que são levadas a cabo independentemente uma das 
outras por produtores privados, ou seja, no caso do capitalismo, uma divisão do trabalho que 
se dá na troca entre capitalistas individuais e independentes que competem uns com os 
outros. Em segundo lugar, existe a divisão do trabalho entre os trabalhadores, cada um dos 
quais executa uma operação parcial de um conjunto de operações que são, todas, executadas 
simultaneamente e cujo resultado é o produto social do trabalhador coletivo. Esta é uma 
divisão do trabalho que se dá na produção, entre o capital e o trabalho em seu confronto 
dentro do processo de produção. Embora esta divisão do trabalho na produção e a divisão de 
trabalho na troca estejam mutuamente relacionadas, suas origens e seu desenvolvimento são 
de todo diferentes (MOHUN, 1988, p.112 - grifo nosso).
Como vemos, o autor analisa o enfoque da ênfase de Marx sobre a divisão social do trabalho 
em dois aspectos: um que está ligado diretamente ao processo de trabalho em si e suas decorrências e, 
outro, mais próximo do funcionamento das relações de produção, mas dentro do campo da circulação 
intercapitalista.   Refere-se   à   localização   do   problema   como   uma   diferença   intercapitalista   dos 
diferentes ramos, abordando muito sutilmente a contradição existente entre as classes antagônicas. 
Apresenta como locais que expressam a divisão do trabalho, a saber: a produção e o local de troca, 
numa mútua implicação, mas com desenvolvimentos distintos. Na verdade, anota o que Marx chamou 
a atenção fortemente: as exigências do processo produtivo em si. O termo citado é conceituado sobre o 
local da troca, o que, na verdade, é a relação própria produtiva realizada no processo de troca.
Para aprofundar esta questão, é bom esclarecer as duas formas pelas quais Marx apresenta a 
divisão do trabalho. A primeira, mais explícita e relevante, como uma divisão ‘especifica’, dentro de 
uma totalidade, na ação do trabalho concreto, ou seja, como uma ação dividida, motivada por alguma 
necessidade   sentida   pelos   sujeitos,   para   uma   melhor   realização   do   trabalho,   ou,   uma   divisão   do 
trabalho   entre   as   distintas   atividades   laborais   específicas,   fruto   do   desenvolvimento   das   forças 
produtivas ou, ainda, de uma divisão natural do trabalho, visão desenvolvida pelos teóricos burgueses 
da   época   da   qual   Marx  se   apropria   e   a   desenvolve-a.   Uma   segunda   face,   contida   e   bem   menos 
desenvolvida em Marx, é a divisão social do trabalho como expressão histórica da divisão existente 
entre as classes sociais no processo produtivo e, conseqüentemente, na luta entre elas.
Para Marx, a especificidade da divisão do trabalho – que alguns autores chamaram de divisão 
técnica do trabalho -, chama a atenção ao trabalho concreto e sua ação produtora de valor-de-uso, o 
que representa só um lado da lógica marxista sobre o tema, como veremos:
“No conjunto formado pelos valores-de-uso diferentes ou pelas mercadorias materialmente 
distintas,   manifesta-se   um   conjunto   correspondente   dos   trabalhos   úteis   diversos,   - 
classificáveis por ordem gênero, espécie subespécie e variedade,- a divisão social do trabalho 
(MARX, 1989, p.49)”.
Marx tem como referência Smith e outros economistas da época, como Storch e Starbek, no 
olhar   da   divisão   social   do   trabalho,   observando,   então,   basicamente   por   dentro   do   processo   de 
trabalho.
“Considerando apenas o trabalho, podemos chamar a separação da produção social em seus 
grandes ramos, agricultura, indústria etc., de divisão do trabalho em geral; a diferenciação 
desses grandes ramos em espécies e variedades, divisão do trabalho em particular, e a 
divisão do trabalho numa oficina, de divisão do trabalho individualizada, singularizada 
(MARX, 1989, p.402)”.
2 IV Conferencia Internacional "La obra de Carlos Marx y los desafíos del siglo XXI"
Nesse processo de mediação, Marx também vai apontar, partindo de uma divisão do trabalho 
na sociedade e outra da fábrica com uma interferência mútua. No âmbito da economia e em outros 
aspectos da vida social, apresenta, mesmo que sutilmente, a expressão da relação classista, no que 
tange   a   compra   e   venda   das   mercadorias,   da   propriedade   dos   meios   de   produção   e   da   força   de 
trabalho.
“A divisão do trabalho na sociedade se processa através da compra e venda dos produtos dos 
diferentes ramos de trabalho, a conexão dentro da manufatura, dos trabalhos parciais se 
realiza através da venda de diferentes  forças de trabalho ao mesmo capitalista que as 
emprega como força de trabalho coletiva. A divisão manufatureira do trabalho pressupõe 
concentração dos meios de produção nas mãos de um capitalista, a divisão social do 
trabalho, dispersão dos meios de produção entre produtores de mercadorias, independentes 
entre si (MARX, 1989, p.407 - Grifo nosso).”
O   processo   de   divisão   vai   sofrendo   modificações.   São   processos   de   especializações   na 
produção,  crescentes  com a  grande  indústria20,  fruto  dos  processos  reais,  de  inúmeros   processos 
produtivos   desenvolvidos   pela   necessidade   de   aumentar   a   produção  em  seu  alcance   no  mercado, 
subdividindo   o   trabalho,   determinando-o   e   tornando-o   exclusivo,   como   já   apontava   Smith.   “Em 
virtude de experiências, cada operação foi sendo cada vez mais subdividida e cada nova subdivisão 
isolada e transformada em função exclusiva de um trabalhador determinado (MARX, 1989, p.388).”
Para Marx, é uma divisão concreta que irá servir de ponte para chegarmos às relações sociais 
produtivas, que envolve, além das diferenças técnicas do trabalho, outro tipo de mediação: as próprias 
relações sociais. Estas se realizam através da apropriação do trabalho alheio, da propriedade privada 
dos meios de produção, relações que expressam a exploração dos trabalhadores pelos capitalistas. A 
divisão do trabalho também apresenta as relações sociais entre os próprios capitalistas que dominam e 
necessitam trocar suas mercadorias, realizar o movimento de comprar e vender.
Marx não aprofunda, mas aponta a mútua interferência das divisões sociais na produção e a 
influência da produção na formação societária. Assim, podemos entender melhor porque Marx não se 
limita ao entendimento de Adam Smith, em que a divisão do trabalho é a explicitação da  produção 
moderna, como se fora somente um quesito técnico. A divisão do trabalho, para SMITH (1985, p.41), 
é explicitada apenas enquanto ‘forças produtivas’ no processo produtivo: “O maior aprimoramento 
das forças produtivas do trabalho, e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais 
o trabalho é em toda parte dirigido ou executado, parecem ter sido resultados da divisão do 
trabalho.”
As   classes   sociais,   em   contradição   com   o   desenvolvimento   das   forças   produtivas,   vão 
fundamentar a compreensão da divisão social do trabalho, a sua explicitação e inclusive a sua não 
explicitação. Afinal, o que é velado através do conceito de divisão social do trabalho? A apropriação 
privada dos meios de produção e o necessário assalariamento do trabalho no processo de reprodução 
da sociedade capitalista. Esse lado, o das relações produtivas da sociedade, é menos desenvolvido 
teoricamente,   pois   se   encontram   ‘esquecidas’   ou   impossibilitadas   diante   do   compromisso   com   a 
sociedade burguesa, por parte  dos economistas  burgueses.  De outro,  por  parte dos críticos, estão 
limitados à separação mecânica entre ‘forças produtivas’ e ‘relações sociais de produção’. O problema 
ocorre quando, primeiro, não são diferenciadas as distintas implicações da divisão social do trabalho; 
segundo, quando a divisão é vista somente como um problema técnico da produção. No caso, não 
expressa   a   contradição   entre   o   desenvolvimento   das   forças   produtivas   e   as   relações   sociais   de 
produção. Marx aponta a superação dessa visão quando apresenta concretamente o processo da divisão 
social do trabalho, subordinando-as às relações classistas existentes.
Como conseqüência do não enfrentamento às diferenças apontadas acima, o entendimento da 
divisão do trabalho passa a ser tecnocrático ou idealista. A divisão é simplesmente uma questão de 
bom funcionamento da máquina social produtiva, como Adam Smith apontava. É nesta direção que 
queremos ponderar: a ampliação do entendimento dominante da divisão do trabalho, como um dos 
3 IV Conferencia Internacional "La obra de Carlos Marx y los desafíos del siglo XXI"
pontos de partida na discussão da formação da força de trabalho, inserida nas relações produtivas 
históricas. Em relação ao modelo de competências, queremos reforçar a existência da divisão e sua 
expressão não só como um problema de habilidade a ser enfrentado, e sim, de uma inserção nos 
ditames das relações sociais dominantes.
Quando Marx aborda a divisão social na manufatura é descrita a historicidade dessa divisão 
também no terreno técnico, na divisão de ofícios, nas atividades, no processo de divisão do trabalho. 
Como já dissemos, é importante entender essas especificidades, e, portanto, separar os entendimentos 
que   expressam   a   divisão   do   trabalho,   sem   ossificá-las,   bem   como   entender   os   elementos   que 
permanecem vivos no fazer humano.
Seguimos para uma outra referência dessa dinâmica de modificação e permanência do fazer 
social. Em diversos momentos, Marx escreve sobre a divisão natural do trabalho e mostra o exemplo 
da divisão de trabalho por sexo. Num patamar superior, aborda as divisões construídas historicamente, 
que   respondem   às   exigências   dos   diversos   modos   de   produção   desenvolvidos   na   história   da 
humanidade.   As   diferenciações   necessárias,   existentes   na   divisão   do   trabalho,   consistem   numa 
totalidade  em movimento.  Por   exemplo,  a   divisão sexual,  apontada   por   Marx  como   uma   divisão 
natural, é  profundamente  modificada  no capitalismo.  Hoje, o próprio desenvolvimento das forças 
produtivas   vem   apontando   para   modificações   substantivas   dessas   diferenças.   Considerada,   antes, 
como   uma   questão   técnica,   natural,   a   divisão   entre   homens   e   mulheres   passa   a   ser   vista   como 
diferenças construídas em um dado momento histórico, pela própria dinâmica das relações sociais com 
o desenvolvimento das forças produtivas. A própria possibilidade das mulheres substituírem homens 
no processo produtivo exemplifica, enquanto resultante, uma mudança da categorização da divisão do 
trabalho na história. De categoria natural, anteriormente, transforma-se numa categoria histórica. Essa 
dupla constituição da divisão do trabalho, como uma divisão natural, por causas naturais, ser criança 
ou ser adulto, está também relacionada à divisão histórica de trabalho. Neste sentido, as relações 
produtivas sociais recriam essa divisão.
As divisões naturais também estão relacionadas à possibilidade do desenvolvimento histórico 
das forças produtivas, como é o caso das mulheres. O desenvolvimento tecnológico possibilitou a 
participação delas no processo exploratório, especificamente no capitalismo, redefinido a questão da 
mulher como uma questão histórica e não mais como uma questão natural atrelada à divisão natural 
sexual do trabalho. O que era considerado natural transformou-se em histórico, conforme explicitado 
no   volume   II   dos   Grundisse:   “Pero que sólo son leyes naturales del hombre en determinado 
desarrollo histórico, con un determinado desarrollo de las fuerzas productivas, condicionado por su 
propio proceso histórico (MARX, 1989, p.113)”.
Como fruto do entendimento da divisão do trabalho, naquilo que ela propicia no processo 
produtivo e organizativo da sociedade, deve-se atentar para a necessidade da troca na base do processo 
da divisão do trabalho.
“Cambio y división del trabajo se condicionan recíprocamente. Cuando cada [[individuo]] 
trabaja para sí y su producto no representa nada para sus propios fines, deber naturalmente 
realizar intercambios, no sólo para participar en lo patrimonio productivo general, sino 
también para transformar el propio producto en un medio de vida para sí mismo  (Marx, 
1989a, p.85 - grifo nosso)”.
Se limitarmos o entendimento da divisão do trabalho em si, desvinculado da necessidade do 
capital em produzir e realizar o valor, não conseguiremos entender a amplitude da divisão do trabalho. 
Além do mais, a obscuridade em não separar as duas expressões da divisão do trabalho atrapalha a 
compreensão do sentido fundamental da produção de valor e, conseqüentemente, da formação da força 
de trabalho.  Por  outro lado, não poderemos  entender  a divisão do trabalho e suas conseqüências 
suprimindo   a   produção   de   valor-de-uso.   É   impossível   a   existência   da   força   de   trabalho   sem   a 
efetivação de algum valor de uso naquilo que é produzido enquanto mercadoria, tanto nos produtos 
dos seres humanos, quanto na própria força de trabalho. Desse modo, o processo produtivo vai beber 
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dos   mecanismos   de   produção   de   valores   de   troca,   passando   objetivamente   pela   resposta   às 
necessidades,   tendo,   portanto,   um   valor-de-uso.   A   produção   de   valor   é   algo   inseparável   da   sua 
possibilidade de ser útil e de ser trocada e no capitalismo atinge o máximo da polarização da produção. 
No caso, se nos primeiros processos da humanidade o centro da produção era sua utilidade e a troca 
era incipiente, no seu desenvolvimento, a troca é o mecanismo para se atingir o sentido último dos 
produtos, especialmente, no capitalismo. A troca tem a centralidade para realização da mais-valia 
produzida. Tal é sua força, que muitos economistas chegam a colocá-la, equivocadamente, como o 
centro produtor do novo valor. Como sempre, no processo de troca é impossível prescindir da sua 
utilidade, mesmo que seja uma “utilidade supérflua”,- a qual, em primeira vista, seria um contra-senso. 
Entretanto, o sentido de útil não exprime necessariamente um padrão moral e, sim, da relação de 
interesses respondidos. Portanto, todas as mercadorias apresentam essa dupla face.
Retomando a idéia da divisão do trabalho, quando a entendemos somente como um elemento 
técnico da produção, tenderemos a pensá-la somente como uma força produtiva, desligada de seu 
outro lado, básico para a realização da troca, colocada nas relações sociais de produção. Portanto, 
quando apanhamos os lados que expressam a divisão do trabalho, necessitamos perceber esses lados 
produzidos e produtores destes valores.
O   limite   é   reduzirmos   a   composição   da   divisão   do   trabalho   e,   como   conseqüência,   na 
composição da força de trabalho e na forma de apresentar o trabalho, somente como a capacidade 
técnica de produzir algo concreto. Entenda-se o concreto como algo específico de uma  atividade 
determinada, deixando assim impossibilitada a apreensão do trabalho abstrato que compõe a totalidade 
do   trabalho   para   produção   de   mercadorias,   que   é   justamente   a   possibilidade   de   mensuração   e, 
conseqüentemente, da realização das trocas. É uma ação indeterminada, medida pelo tempo gasto 
socialmente necessário na produção de uma mercadoria, que constitui o trabalho abstrato.
O debate das competências deve ser enriquecido pela recuperação da categoria da divisão do 
trabalho. No caso, quando lermos a formação da força de trabalho por competências, devemos sempre 
entendê-la dentro da lógica da divisão do trabalho e de sua característica em sua totalidade. Impossível 
tratá-la   fora   desse   fundamento   básico.   Além   disso,   entender   esse   parâmetro   não   é   analisar   as 
competências fora do conteúdo das relações sociais existentes, a necessidade de elas expressarem um 
valor concreto, de uso, mas também de serem valoradas através da troca, ou seja, no mercado. Assim, 
poderemos ter elementos para sair da armadilha fetichista da idéia e da prática de competência que se 
autodefine como superadora da divisão do trabalho.
Bibliografia
CHIAVENATO, I. Carreira e Competência: Gerenciando o seu maior capital. São
Paulo:Editora Saraiva, 2002.
MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 1. Vol I. 13a edição, Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1989.
______. Elementos Fundamentales para la Crítica de la Economia Política (Grundisse)
1857-1858. Vol II. Mexico: Siglo Veintiuno Editores, 1989ª.
MOHUN, S. Divisão do Trabalho In: BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Marxista.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
ZARIFIAN P. Objetivo Competência, por uma nova lógica. São Paulo: Editora Atlas, 2001.
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Revista Virtual Textos & Contextos, nº 2, dez. 2003. 
Textos & Contextos 
Revista Virtual Textos & Contextos. Nº 2, ano II, dez. 2003 
Relações sociais e questão social na trajetória histórica do serviço social brasileiro 

Leonia Capaverde Bulla *

 Resumo 
Discutem-se,  neste  artigo,  temas  que  oferecem  subsídios  para  a  compreensão  das  relações  sociais 
peculiares  ao  sistema  social  capitalista,  estreitamente  ligadas  à  questão  social,  às  origens  e  ao 
desenvolvimento  do  Serviço  Social  no  Brasil.  Para  estabelecer  a  relação  do  Serviço  Social  com  a 
questão  social e com as políticas sociais do Estado, foram focalizados  elementos do Estado liberal, do 
Estado  intervencionista,  e  as  funções  políticas  e  sociais  do  Estado  moderno.  Foram  reconstituídos  os 
processos de institucionalização da profissão, de ampliação do seu mercado de trabalho e a expansão das 
unidades de ensino de Serviço Social. Revisando-se a trajetória histórica do Serviço Social na sociedade 
brasileira, são oferecidas luzes para os debates atuais da profissão e seus questionamentos em relação às 
mudanças projetadas para o futuro. 
PALAVRAS CHAVES: Relações Sociais. Questão Social. Políticas Sociais. Serviço Social.     
 Abstract 
They    are  discussed,  in  this  article,  the  themes  that  give  subsidies  for  the  understanding  of  the 
peculiar  social  relationships  to  the  capitalist  social  system,  linked  to  the  social question, to the origins 
and development of the Social Work in Brazil. To establish the relationship of the Social Work with the 
social question and with the social politics of the State, elements of the liberal State were debated, of the 
controller State, and the political and social functions of the modern State. They were reconstituted the 
processes  that  turned  the  Social  Work  a  profession,  the  amplification  of  its  labor  market  and  the 
expansion of the units of teaching of Social Work. Being revised the historical trajectory of the Social 
Work  in  the  Brazilian  society,  lights  are  offered  for  the  current  discussions  of  the  profession  and  its 
questions in relation to the changes projected for the future.    
KEY WORDS: Social Relationships. Social Question. Social Politics. Social Work. 

Introdução :
 Quando o Serviço Social surgiu no Brasil, na década de 30 do século passado, registrava-se no 
País  uma  intensificação  do  processo  de  industrialização  e  um  avanço  significativo  rumo  ao 
desenvolvimento econômico, social, político e cultural. Tornaram-se mais intensas também as relações 
sociais peculiares ao sistema social capitalista. 
Quando  se  coloca  em  discussão  a  denominada  questão  social,  dois  elementos  surgem  em 
destaque: o trabalho e o capital. A resposta a ser dada ao conflito, entre esses dois pólos, vai depender da 
maior ou menor importância que se atribui a um ou outro desses elementos. Para entender melhor essa 
problemática,  considera-se,  de  início,  o  trabalho  humano,  destacando  as  relações  sociais  que  se 
desenvolvem  no  sistema  produtivo.  Focaliza-se,  então,  o  cerne  da  questão  social,  a  exploração  do 
trabalho pelo capital, com todas as suas conseqüências para a vida do trabalhador. 
O Serviço Social profissional teve suas origens no contexto do desenvolvimento capitalista e 
do agravamento da questão social. Para compreender as circunstâncias históricas ligadas ao surgimento                                         
dessa profissão no Brasil, estudou-se o contexto da época em que foi criada no País, a década de 30 do 
século  passado,  considerando-se  como  eixo  central  da  análise  a  questão  social  em  seus  aspectos 
econômicos,  políticos  e  sociais.  Nesse  contexto,  foi  promulgada  uma  série  de  medidas  de  políticas 
sociais, como uma forma de enfrentamento das múltiplas refrações da questão social, ao mesmo tempo 
em que o Estado conseguia a adesão dos trabalhadores, da classe média e dos grupos dominantes, donos 
do  capital.  O  governo  populista  adotava,  ao  mesmo  tempo,  mecanismos  de  centralização  político-administrativa,  que  favoreciam  o  aumento  da  produção,  dando  condições  para  a  expansão  e  a 
acumulação capitalista. 
Relacionando  o  Serviço  Social  com  a  questão  social  e  com  as  políticas  sociais  do  Estado, 
tornou-se necessário o debate de alguns elementos da problemática do Estado: o Estado liberal, o Estado 
intervencionista,  e  as  funções  educativas,  políticas  e  sociais  que  se  desenvolvem  no  âmbito  do  Estado moderno. Os processos de institucionalização do Serviço Social, como profissão, estão relacionados com os  efeitos  políticos,  sociais  e  populistas  do  governo  de  Vargas.  A  implantação  dos  órgãos  centrais  e regionais  da  previdência  social  e  a  reorganização  dos  serviços  de  saúde,  educação,  habitação  e assistência ampliaram de modo significativo o mercado de trabalho para os profissionais da área social. 
O  Serviço  Social,  como  profissão  e  como  ensino  especializado,  beneficiou-se  com  esses  elementos 
históricos  conjunturais.  Ao  mesmo  tempo  em  que  se  ampliava  o  mercado  de  trabalho,  criavam-se  as 
condições para uma expansão rápida das escolas de Serviço Social. 

1.  As relações sociais no sistema capitalista 

O  trabalho  humano  se  encontra  na  base  de  toda  a  vida  social.  Os  homens,  impulsionados  pelas 
necessidades  vitais,  apropriam-se  da  natureza  e  produzem  os  bens  necessários  a  sua  manutenção,  que 
lhes dão condições de existir, de se reproduzir e de “fazer história”, salientaram Marx e Engels (1982, 
p.19). Satisfeitas as primeiras necessidades, surgem outras, exigindo novas soluções, que direcionam o 
homem nas relações com os outros homens. Enredado nesse conjunto de relações sociais, como um ser 
social e histórico, este desenvolve sua práxis, atividade material pela qual ele “faz o mundo humano” e 
se  transforma  a  si  mesmo  (Vazquez,  1977,  p.  9).  Assim,  através  de  contínuas  transformações  das 
condições  sociais,  realizadas  pela  práxis  humana,  foram  sendo  gerados  os  progressos  econômico  e 
social, bem como toda uma cultura. 
Na teoria marxista, o modo de produção oferece elementos para caracterizar as sociedades e analisar 
as  suas  transformações.  É  importante  apresentar  aqui  alguns  elementos  dessa  teoria,  que  propiciam  a 
discussão sobre as forças que atuam na vida social e a crítica a um determinismo mecanicista. 
No processo de trabalho, os homens criam determinadas relações entre eles (relações de produção), 
que, juntamente com a capacidade de produzir (forças produtivas), constituem o modo de produção. O 
nível de desenvolvimento dessas forças produtivas materiais e as relações de produção correspondentes 
determinam, segundo Marx e Engels (1982), os diferentes tipos de sociedade. As relações de produção 
modelam,  portanto,  a  estrutura  social  e  a  repartição  da  sociedade  em  classes.  Quando  as  condições 
materiais  de  produção  mudam,  também  se  alteram  as  relações  entre  os  homens  que  ocupam  a  mesma posição na sociedade de classes. 
Marx  e  Engels  (1982)  considera  que  a  totalidade  das  relações  de  produção  estrutura 
economicamente  a  sociedade.  Na  base,  se  encontram  as  forças  produtivas,  ou  seja,  os  instrumentos  e técnicas de produção, a força de trabalho dos homens, os objetos aos quais se aplica esse trabalho. Sobre 
a  infra-estrutura  econômica  se  ergue  uma  superestrutura,  composta  da  instância  jurídico-política  e  da 
instância ideológica, a que correspondem todas as formas de consciência social. As contradições entre as forças  produtivas  e  as  relações  de  produção  acabam  levando  ao  colapso  um  determinado  modo  de 
produção e a sua substituição por outro, dando assim lugar ao que Marx denomina de “épocas 
progressivas de formação econômica e social” (Marx e Engels 1982, p. 531). 
As  concepções  acima  sobre  modo  de  produção  e  sua  transformação  histórica,  necessárias  para  se 
compreender  como  funcionam  as  forças  de  vida  social,  colocam  um  acento  demasiado  nas  forças 
econômicas,  fazendo  delas  o  elemento  determinante.  Não se desconhece que as condições econômicas 
têm  sido,  historicamente,  as  forças  mais  fortes  e  decisivas,  mas  não  se  pode  negar  a  existência  de 
inúmeras  outras  forças,  que  também  exercem  a  sua  influência.  Os  elementos  políticos,  jurídicos, 
filosóficos,  religiosos,  literários,  artísticos  e  outros  repercutem  uns  sobre  os  outros,  sobre  a  estrutura 
econômica e sobre o curso da história. 
Essa visão encontra apoio em vários autores marxistas que, justamente por esse posicionamento, são 
referidos freqüentemente neste trabalho, dando-lhe suporte teórico. Gramsci (1974), que considerava o 
marxismo  como  uma  “filosofia  da  práxis”,  salientava  o  papel  do  fator  subjetivo,  da  atividade 
revolucionária dos homens na história real, mas sublinhando “a oposição do marxismo tanto ao 
materialismo  mecanicista  como  à  filosofia  especulativa  em  geral,  desligada  da  história  real  e  da 
atividade prática humana, particularmente a política” (Vazquez, 1977, p. 49). 
Esses  autores  salientam  o  papel  de  sujeito,  a  ação  exercida  pelos  homens  na  história,  sem 
desconhecer as circunstâncias que limitam o agir humano. Esse relacionamento configura-se como uma 
relação dialética entre o sujeito e o objeto, em que se reconhece uma reciprocidade de influências entre 
esses  dois  elementos,  tanto  no  processo  de  conhecimento  da  realidade,  como  na  atividade  prática  que visa transformá-la. 
A interpretação economicista das forças sociais, por outro lado, tem seus fundamentos na leitura de 
textos de Marx e Engels, desvinculados do contexto histórico em que foram produzidos e do todo de sua 
obra.  Para  combater  os  que  viam  na  consciência,  na  razão,  nas  idéias,  na  moral  ou  na  religião  a  força motriz da história, Marx e Engels (1982) atribuíram uma tal importância à estrutura econômica, que deu 
margens  a  interpretações  distorcidas.  Um  estudo  mais  profundo  desses  autores  tem  demonstrado, 
entretanto,  o  valor  atribuído  por  eles  às  influências  das  outras  instâncias  da  sociedade  e  à  ação  dos 
homens na história. 
Por  outro  lado,  não  são  as  intenções,  nem  a  pura  vontade  dos  homens,  de  certos  grupos  e  de  seus heróis, que determinam a marcha da história. Os homens fazem a história, com sua práxis, mas “dentro 
de circunstâncias concretas e históricas que cerceiam ou ativam suas ações” (Marx e Engels, 1982, p. 
547).  Nessas  relações  podem  ser  constatadas  as  ambigüidades  humanas,  as  hesitações  e,  não  raro,  os distanciamentos entre os projetos ideais e as realizações concretas, que demonstram, como bem expressa 
Kosik, “a dialética da situação dada e da ação; a dialética das intenções e dos resultados do agir humano; 
a dialética do ser e da consciência dos homens (Kosik, 1976). 
Na realidade, embora os homens se encontrem enredados em múltiplos condicionamentos, existem 
possibilidades  e  espaços,  ainda  que  limitados,  para  sua  ação  transformadora.  E  a  história  tem 
testemunhado  esse  contínuo  movimento  dos  homens,  tentando  superar  as  circunstâncias  adversas  e 
melhorar as suas condições de existência, através de sua práxis humano-social. 
 2.  A questão social na sociedade capitalista 
 A  história  revela  que  a  ação  recíproca  entre  os  homens,  embora  tenha  gerado  o  progresso 
econômico-social  e  toda  uma  cultura  humana,  produziu  também  a  alienação,  a  dominação  do  homem 
sobre os outros homens e as desigualdades sociais. Essas desigualdades sociais se tornaram cruciais nas 
sociedade em processo de industrialização. 
Marx,  em  sua  obra  O  Capital  (1985),  fez  uma  profunda  crítica  da  sociedade  capitalista  e  das 
ideologias  que  mascaram  a  sujeição  real  do  trabalho  ao  capital,  a  alienação  e  a  exploração  da  classe trabalhadora. Os proprietários dos meios de produção, retirando a mais-valia do trabalho, intensificaram o  processo  de  acumulação  do  capital.  A  concentração  dos  bens  de  produção  nas  mãos  de  poucos,  em prejuízo  dos  que  só  possuíam  a  sua  força  de  trabalho,  levou  ao  agravamento  dos  problemas  sociais enfrentados pelos trabalhadores. 
As  relações  conflituosas  que  se  estabeleceram  entre  o  capital  e  o  trabalho  configuram  a  questão 
social,  problema  que,  a  partir  do  século  XIX,  tem  sido  colocado  em  debate,  com  o  aporte  da  teoria marxista. Como os desdobramentos da questão social na história serão estudados posteriormente, foram selecionados dois pontos para a discussão: a exploração e a alienação. 
Marx, a partir do valor do trabalho, construiu o conceito de mais-valia. O autor explica, então, que 
no modo de produção capitalista, o processo de trabalho é também um processo de exploração, porque 
se dá uma apropriação do excedente do trabalho pelo capitalista (1985). O trabalhador, que nada possui, 
se vê obrigado, assim, a vender sua força de trabalho para poder sobreviver, e a burguesia, detentora dos 
meios  de  produção,  enriquece,  se  apropriando  da  mais-valia.  A  acumulação  crescente  levou  o  sistema capitalista a expandir-se, assumindo cada vez mais o controle de todos os recursos materiais e humanos, e colocou esse imenso potencial a serviço de um processo produtivo cada vez mais eficiente, associado ao desenvolvimento científico e tecnológico. 
O sistema capitalista, entretanto, além da exploração, significa também a alienação do homem. E a 
obra  de  Marx  (1982-1985)  é  permeada  pelas  críticas  às  várias  formas  de  alienação:  a  religiosa,  a 
filosófica, a política e a socioeconômica. Para Marx (1985), a alienação econômica e social reveste-se, 
principalmente, das seguintes formas: separação entre o homem e seu trabalho, que o priva de decidir o 
que faz e como faz; separação entre o homem e o produto de seu trabalho, que lhe tira o controle sobre o 
que é feito com o resultado e os excedentes de seu trabalho, possibilitando a exploração; separação entre 
o homem e seu semelhante, gerando relações de competição. Essas formas de alienação se fundamentam 
na divisão social do trabalho, na propriedade privada e na decorrente divisão da sociedade em classes. 
Grande parte da obra de Marx e Engels (1982) se constitui numa tentativa de mostrar ao movimento 
operário  como  o  modo  de  produção  capitalista  desvirtua  a  vida  e  as  relações  sociais  humanas,  sob 
múltiplas  formas,  com  o  intuito  de  satisfazer  as  exigências  da  reprodução  do  capital.  A  consciência 
crescente  da  exploração  e  o  agravamento  dos  problemas  sociais,  ligados  à  acumulação  capitalista, 
levaram  os  trabalhadores  a  se  organizar  em  movimentos  e  lutas  por  melhores  condições  de  vida  e  de trabalho. 
As políticas sociais, que começaram a ser implantadas no fim do século XIX, na Europa e Estados 
Unidos,  e  a  partir  de  1930,  no  Brasil, têm sido apontadas como “uma gestão, ainda que conflitiva, da 
força de trabalho para que ela se reproduza nas melhores condições para o capital” (Faleiros, 1980, p. 
48). Mas as medidas de política social não podem ser vistas apenas sob o ângulo da reprodução ou como 
escamoteamento  da  exploração  capitalista.  Essa  seria  uma  explicação  parcial  e,  de  certa  forma, 
mecanicista, porque não considera a realidade concreta da correlação de forças sociais e as contradições 
do  próprio  sistema  capitalista.  Assim,  embora  não  se  desconheçam  os  outros  fatores  envolvidos, 
salienta-se o papel de sujeito, desempenhado pelas classes trabalhadoras, na conquista de seus direitos e 
na  implantação  de  medidas  de  política  social  pelo  Estado  capitalista  moderno,  em  resposta  à  questão social. 
  É  importante  assinalar,  portanto,  que  as  políticas  sociais  implantadas  nos  países  de  capitalismo 
avançado, não foram produtos de uma ação autônoma e beneficente do Estado, mas “o resultado de 
concretas, prolongadas e muitas vezes violentas demandas das classes populares” (Vilas, 1978, p. 7). 
Nesses países havia uma longa tradição de luta pelos direitos de cidadania. Muitos benefícios sociais 
foram conquistados pelos trabalhadores e eram administrados pelo Estado, como forma de distribuição 
da riqueza acumulada pelo capital. No Brasil, as políticas sociais e o Serviço Social foram implantados 
na terceira década do século XX, em condições muito diversas, assumindo características peculiares, que 
vão marcar seu desenvolvimento posterior e que ajudam a compreender suas limitações atuais. 
 3.  A questão social no processo de industrialização do Brasil 
 Em meados da década de 30, do século XX, quando o Serviço Social surgiu no Brasil, registrava-se 
no  País  uma  intensificação  do  processo  de  industrialização  e  um  impulso  significativo  rumo  ao 
desenvolvimento  econômico,  social,  político  e  cultural  (Pereira,  1999).  Essas  mudanças  no  contexto 
sociopolítico  e  econômico  brasileiro  iniciaram  com  a  Revolução  de  1930,  considerada  um  evento 
marcante da história contemporânea brasileira. 
Na realidade, a referida revolução pode ser considerada como um ponto divisório entre dois períodos 
distintos  da  história  da  sociedade  brasileira:  a  época  de  vigência  do  sistema  agrário-comercial, 
amplamente  vinculado  ao  capitalismo  internacional,  e  a  do  sistema  urbano-industrial,  voltado  para  o 
mercado interno, que emergia paulatinamente, encontrando bases cada vez mais sólidas de expansão. 
Antes de 1930, um parque industrial ainda incipiente não permitira a concentração do proletariado, 
mas a questão social já se fazia perceber localizadamente. As condições de trabalho eram precárias e o 
estado de tensão era permanente por falta de uma legislação trabalhista. 
A partir de 1930, o Brasil entrou num período de maior desenvolvimento econômico, que se refletiu 
no  aumento  da  renda  per  capita,  dos  salários  reais  e  do  consumo.  Simultaneamente  registrou-se  um 
incremento  da  taxa  de  crescimento  da  população  e  de  urbanização.  A  concentração  da  população  nas áreas  urbanas  trouxe  consigo  problemas  de  assistência,  educação,  habitação,  saneamento  básico,  de infra-estrutura e tantos outros. Na medida em que a industrialização avançava, crescia a concentração da 
renda,  ampliando-se  as  desigualdades  sociais,  aumentando  as  tensões  nas  relações  de  trabalho  e 
agravando-se a questão social. 
O  Estado,  com  sua  concepção  liberal,  expressa  mais manifestamente  na Constituição Brasileira de 
1891,  negava-se  a  intervir  nos  conflitos  entre  patrões  e  empregados  e  se  opunha  a  realizações  sociais distributivas de caráter obrigatório (Fischlowitz, 1964). De acordo com as concepções vigentes, não se admitia a intervenção direta do Estado na economia. Ele atuava como um simples “regulador do livre 
jogo  das  forças  econômicas,  administrando,  cobrando  impostos,  fornecendo  meios  de  comunicações  e transportes baratos para a circulação de mercadorias” (Flores, 1986, p. 98). Ao contrário do que 
acontecera  em  governos  anteriores,  entretanto,  o  governo  populista,  que  assumiu  o  poder  logo  após  a Revolução de 1930, reconheceu a existência da questão social, que passou a ser uma questão política, a 
ser enfrentada e resolvida pelo Estado. 
 4.  As políticas sociais face à questão social 
 Com o incremento do processo de industrialização, os movimentos operários começaram a surgir no 
Pais, com freqüência crescente. Apareciam sinais evidentes de descontentamento e frustração da classe 
média  e  dos  grupos  de  intelectuais.  Ocorriam  também  movimentos  políticos  contra  a  administração 
pública,  considerada  ineficiente,  inábil  e  retrógrada,  protestando-se  contra  o  status  quo  e  a  falta  de 
soluções para as crises sociais, políticas e econômicas (Fischlowitz, 1964). 
Vargas,  que  estava  no  poder,  temia  a  ascensão  e  o  acirramento  desses  movimentos,  a  exemplo  do 
que  acontecia  com  os  movimentos  operários  europeus.  Para  conseguir  a  adesão  e  o  consenso  dos 
trabalhadores, ele estabeleceu uma série de medidas de política social de caráter preventivo, integradas 
no  conceito  de  progresso  social  e  institucional.  Em  sua  grande  parte,  essas  medidas  também 
beneficiavam a classe média e atendia, de certa forma, as aspirações da burguesia, dando condições de 
aumento  da  produção.  Ele  conseguiu,  assim,  estabelecer  uma  política  de  compromissos  e  conciliações entre os grupos dominantes, as camadas médias e os trabalhadores, que sustentavam a ideologia da “paz social”, que deu suporte à expansão do capitalismo no Brasil. A questão social, que antes era encarada como  uma  questão  de  polícia,  passou  a ser considerada  como uma questão de Estado, que demandava soluções mais abrangentes . 
O Estado adotou, a partir daí, uma política de proteção ao trabalhador, incentivando o trabalho e o 
aumento da produção. Criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de 1930, e 
promulgou  uma  legislação  trabalhista  que  respondia,  de  certa  forma,  às  necessidades  do  trabalhador  e aos  interesses  mais  amplos  da  industrialização  emergente.  Assim,  foi  sendo  dado  um  tratamento 
sistemático à questão social que, ao mesmo tempo, aliciava e atrelava as classes subalternas à política do 
governo, sem permitir maiores chances de participação. 
No  mesmo  ano,  foi  criado  o  Ministério  dos  Negócios  da  Educação  e  Saúde  Pública. Em  1933,  as 
caixas  de  aposentadorias  e  pensões  deixam  de  pertencer  às  grandes  empresas  e  passam  a  abranger 
categorias de profissionais, surgindo, a partir dessa data, os institutos de aposentadorias e pensões. Ainda 
em 1933, foi criado o Instituto de Aposentadoria dos Marítimos e, no ano seguinte, 1934, o Instituto de 
Aposentadoria  e  Pensões  dos  Comerciários  e  dos  Bancários.  Em  1936,  os  trabalhadores  da  indústria foram beneficiados  com a criação  do Instituto de Aposentadoria  e Pensões dos Industriários. Em 1938 foram fundados mais dois órgãos do mesmo tipo dos anteriores, o Instituto de Aposentadoria e Pensões para Trabalhadores do Transporte e Carga e o Instituto para a Assistência dos Servidores Civis. Nos anos seguintes  foram  sendo  ampliadas  as  categorias  beneficiadas,  estabelecendo-se  que  as  que  não  fossem cobertas pelos institutos continuariam a pertencer às caixas de aposentadorias e pensões existentes antes de 1930 (FEE, 1983; Faleiros, 1980). 
Em 1938, foi instituído o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), órgão ligado ao Ministério 
de  Educação  e  Saúde,  a  quem  foram  atribuídas  as  seguintes  funções:  realizar  inquéritos  e  pesquisas 
sobre  as  situações  de  desajustes  sociais;  organizar  o  Plano  Nacional  de  Serviço  Social,  englobando  os setores públicos e privados; sugerir políticas sociais a serem implantadas pelo governo; dar parecer sobre 
a  concessão  de subvenções governamentais  às instituições  privadas. Segundo  Iamamoto  , o CNSS não 
chegou a exercer plenamente as suas funções, servindo mais como distribuidor de verbas e subvenções, 
favorecendo o clientelismo político. É considerado, entretanto, como um “marco da preocupação do 
Estado em relação à centralização e organização das obras assistenciais públicas e privadas” (Iamamoto; 
Carvalho, 1983, p. 256). 
Em  1939,  receberam  a  devida  regulamentação  a  Justiça  do  Trabalho  e  a  Legislação  Sindical, 
mecanismos  que  já  constavam  da  Constituição,  desde  1937.  Em  1940,  foram  decretados  o  Imposto 
Sindical, o Salário Mínimo e o Serviço de Alimentação da Previdência Social. 
Em  1942,  foi  criada  por  Decreto-lei  a  Legião  Brasileira  de  Assistência  (LBA),  que  serviria  como 
órgão de colaboração junto ao Estado, para cuidar dos Serviços de Assistência Social. Ainda em 1942, 
foi  instituído  o  Serviço  Nacional  de  Aprendizagem  Industrial  (SENAI)  e  o  Serviço  Nacional  de 
Aprendizagem  Comercial  (SENAC).  Em  1943,  foi  promulgada  a  Consolidação  das  Leis  do  Trabalho 
(CLT). Em 1946, foram fundados mais dois órgãos importantes para o atendimento dos trabalhadores: o 
 Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Social do Comércio (SESC). No mesmo ano, criou-se a 
Fundação Leão XIII, com o objetivo de atuar na educação popular dos favelados do Rio de Janeiro. Em 
1951,  foi  criada  a  Fundação  da  Casa  Popular,  para  melhorar  as  condições  de  habitação  das  classes 
trabalhadoras. Ainda em 1951, foi também instituído o abono familiar para as famílias com rendimentos 
inferiores ao dobro do salário mínimo e com, pelo menos, oito filhos menores de 18 anos. 
Foram muito importantes para a proteção ao trabalhador as instituições referidas acima e as medidas 
de  Política  Social  assumidas  pelo  governo  brasileiro,  no  período  de  1930  a 1954. Entre  essas medidas podem  ser  citadas  a  instituição  do  salário  mínimo,  a  jornada  de  8  horas  de  trabalho,  as  férias remuneradas,  a  estabilidade  no  emprego,  a  indenização  por  dispensa  sem  justa  causa,  a  convenção coletiva de trabalho, a proteção ao trabalho da mulher e do menor, a assistência à saúde, à maternidade, à infância e uma série de outros serviços assistenciais e educacionais. 
Os  grandes  gastos  do  governo  com  a  política  social,  nesse  período,  deram  origem  à  concepção  de 
Estado  de  Bem-Estar  Social  que, na  realidade, nunca chegou a ser totalmente implantado no Brasil. O 
Estado  se  tornou  cada  vez  mais  importante  e  se  transformou  no  principal  instrumento  de  acumulação 
capitalista,  através  de  mecanismos  de  centralização  política  e  administrativa  e  de  controle  da  massa 
trabalhadora, pelas técnicas de propaganda, coesão social e assistência. 
Nesse  contexto,  o  Estado  tornou-se  o  centro  máximo  das  decisões,  passando  a  impor,  quase  que 
unilateralmente, as novas vantagens sociais, sem maior participação da sociedade brasileira. Esse Estado 
se arrogava a prerrogativa de conceder os benefícios sociais, dentro de uma política de “harmonia e de 
paz social”. 
O  operariado  se  via  tolhido  por  uma  legislação  trabalhista  e  por  uma  política  outorgada  que,  ao 
mesmo tempo que lhe garantia direitos e lhe concedia benefícios, limitava-lhe a ação política. A classe 
operária  perdia,  transitoriamente,  a  possibilidade  de  aprimorar  os  seus  próprios  meios  de  atuação, 
inserida que estava num sistema político destinado a evitar ou limitar a emergência de tensões entre as 
classes. 
 5.  A criação do serviço social no contexto da questão social 
 Em sua política de alianças, o governo de Vargas também procurou o apoio da Igreja Católica. As 
posições  da  Igreja  relativas  à questão social, contidas na Encíclica Quadragésimo Ano  (Pio IX, 1931), 
confirmavam as da Rerum Novarum (LEÃO XIII, 1891) quanto à necessidade de o Estado intervir nas 
relações entre o capital e o trabalho e à obrigação de realizar políticas sociais. Reafirmavam, por outro 
lado, a importância de uma sociedade consensual e harmônica, sem conflitos de classe. 
Essas  e  outras  aproximações  entre  o  Governo  e  Igreja  brasileira  os  levaram  a  se  apoiarem 
mutuamente.  A  Igreja  oferecia  suporte  às  políticas  do  Estado,  e  Vargas  cooperava  com  muitos  dos 
propósitos da Igreja Católica, preocupada com a restauração cristã da sociedade brasileira (Montenegro, 
1972).  A  partir  dessa  aliança,  houve  uma  grande  expansão  das  instituições  católicas,  tanto  as 
assistenciais, quantos as educativas, entre elas as universidade católicas. Essas instituições educacionais 
foram  significativas  na  formação  de  pessoal  para  a  realização  do  trabalho  social  nas  instituições 
assistenciais nascentes. 
Para que a nova atividade se afirmasse como profissão e pleiteasse o reconhecimento da sociedade, 
tornou-se  necessária  a  elaboração  de  um  conjunto  de  conhecimentos  próprios  e  a  formação  de 
profissionais  competentes,  que  dessem  uma  contribuição  significativa  à  sociedade.  Com  tal  objetivo, 
foram organizados os cursos de Serviço Social 
A  primeira  escola  de  Serviço  Social,  no  Brasil,  foi  fundada  em  1936,  em  São  Paulo,  onde  se 
concentrava  a  maior parte da indústria nacional. Esse curso foi incorporado, mais tarde, à PUCSP. No 
ano  seguinte,  foi  criado  o  curso  de  Serviço  Social  no  Rio  de  Janeiro,  junto  ao  Instituto  Social,  sendo, posteriormente, vinculado à PUCRJ. Em 1945, entrou em atividade a Escola de Serviço Social de Porto Alegre,  hoje  denominada  Faculdade  de  Serviço  Social  da  PUCRS.  Outras  escolas  de  Serviço  Social foram sendo fundadas no decorrer das décadas seguintes. 
Nos primeiros tempos, os Assistentes Sociais trabalhavam principalmente nas instituições da Igreja 
Católica,  fortemente  ligada  às  origens  da  profissão.  Esse  profissional  foi  logo  sendo  absorvido  pelas 
instituições do Estado que se organizava para enfrentar a questão social. Os campos da saúde e jurídicos 
foram os privilegiados, tanto que o Serviço social passou a assumir características paramédicas e para-jurídicas.  A  área  da  saúde,  englobava  o  trabalho  nos  centros  de  saúde,  nos  hospitais  gerais,  nas 
maternidades,  nos  hospitais  pediátricos  e  psiquiátricos,  nos  centros  de  atendimento  aos  portadores  de deficiência, nos centros de reabilitação e outros. Na área judiciária o Serviço Social atendia os casos de 
abandono,  maus-tratos  e  adoção  de  crianças  e  adolescentes,  jovens  e  adultos  infratores,  e  outros 
problemas  familiares.  Além  disso,  atuava  na  área  da  Educação,  na  Habitação,  na  Assistência  e  até  na área  da  Agricultura,  em  trabalhos  de  Extensão  Rural  (programas  de  desenvolvimento  de  comunidades rurais). 
O Estado passou a ser então o grande empregador. Mas o Assistente Social também ocupava outros 
espaços  profissionais,  em  grandes  organizações,  como  as  associações  patronais  da  Indústria  (Serviço 
Social da Indústria e Serviço Nacional de Aprendizagem  Industrial) e do Comércio (Serviço Social do 
Comércio  e  Serviço  Nacional  de  Aprendizagem  Comercial),  que  empregavam  grande  número  de 
Assistentes Sociais para atuar junto aos trabalhadores da Indústria e do Comércio. Essa foi uma porta de 
entrada para o trabalho dos profissionais nas grandes empresas, sendo contratados diretamente por essas 
organizações. 
Outra  grande  fonte  de  empregos  dos  profissionais  da  área  foi  a  Legião  Brasileira  de  Assistência, 
subsidiada  quase  exclusivamente  por  fundos  públicos,  muito  criticada  por  suas  ligações  com  as 
“primeiras damas dos Estados e Municípios” e por suas características clientelistas, muitas vezes 
utilizadas  para  fins  político-eleitoreiros.  Paralelamente  a  essas  instituições  governamentais  ou 
subsidiadas,  quase  que  exclusivamente  por  verbas  públicas,  existiam  outras  instituições  particulares, 
ligadas às organizações religiosas e privadas com os mais variados objetivos na área social. 
Em seus campos iniciais de trabalho, os profissionais de Serviço Social se viram na contingência de 
importar  modelos  teóricos  e  metodológicos  de  Serviço  Social,  construídos  em  países  em  estágio  mais avançado de desenvolvimento. O instrumental importado, que enfatizava a abordagem individual, com 
características  paramédicas  e  parajurídicas,  tornou-se  inadequado.  Diante  de  uma  realidade 
subdesenvolvida,  onde  as  condições  de  subsistência  não  estavam  sendo  atendidas,  a  ação  profissional mostrava-se paliativa, pois os problemas requeriam soluções estruturais. 
O referencial teórico e as propostas metodológicas iniciais do brasileiro tinham como fundamentos 
os  princípios  filosóficos  e  cristãos,  aliados  às  experiências  de  ação  social  francesas  e  belgas.  Essas 
origens conferiram ao Serviço Social uma herança cultural com “fortes marcas confessionais”, como 
destaca Iamamoto (1998, p. 105). Na época, o Serviço Social era concebido como uma “missão”, um 
“serviço” à sociedade, que estava na dependência de uma “vocação” específica de seus agentes, a quem 
competiria, segundo expressões muito utilizadas na época, “fazer o bem-feito”. Isso significava realizar 
um trabalho de ajuda com competência técnica, com base em princípios filosóficos e morais, que seriam 
transmitidos aos assistentes sociais, através da educação. 
Essa visão inicial, com muita ênfase  em conteúdos filosóficos, logo se mostrou insuficiente para a 
atuação  prática  dos  assistentes  sociais.  A  partir  da  década  de  40  do século XX, os novos profissionais procuraram um aprimoramento técnico e metodológico, tendo como fundamento as  Ciências Sociais e, com elas, a visão funcionalista americana passou para o brasileiro. 
 Esses  fundamentos  foram  muito  questionados,  a  partir  da  década  de  60,  época  em  que  grandes 
mudanças  ocorreram na vida  social, econômica, política  e cultural  brasileira.  Estudos publicados pelos 
organismos  internacionais  e  pan-americanos  foram  revelando  os  problemas  de  subdesenvolvimento  da 
América Latina, sua dependência em relação aos países hegemônicos e a marginalidade de grande parte 
de sua população. O desenvolvimento se transformou numa idéia-força que penetrou todos os setores da 
sociedade.  A  busca  de  uma  saída  para  a  situação  de  subdesenvolvimento  tornou-se  a  preocupação  dos responsáveis pelas políticas econômicas e sociais dos países sul-americanos. 
Nesse  contexto,  os  intelectuais  da  áreas  das  Ciências  Humanas  e  Sociais,  entre  eles  os  de  Serviço 
Social, questionavam-se sobre as formas de superação das situações de atraso e de marginalidade social 
e  sobre  o  papel  dos  diferentes  profissionais  no  processo  de  desenvolvimento.  Com  a  consciência  das condições de subdesenvolvimento do País e da pobreza de grande parte da população, crescia entre os 
profissionais  um  sentimento  de  frustração,  gerado  pela  incapacidade  de  atender  às  demandas  sociais. 
Associavam-se  a  esse  sentimento,  a  falta  de  reconhecimento  e  o  desprestígio  profissional  do  Serviço 
Social, em relação às profissões mais tradicionais. 
As  prerrogativas  dos  diplomados  em  cursos  superiores  de  Serviço  Social  estavam  asseguradas  em 
leis  e  decretos.
  Por  definição  legal,  o  Serviço  Social  constituía-se  como  profissão  liberal,  de  natureza 
técnico-científica, sendo a designação profissional de “assistente social” privativa dos habilitados em 
cursos  superiores  específicos,  reconhecidos  pelo  governo  federal.  Para  a  disciplina  e  fiscalização  do 
exercício da profissão, criaram-se o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Serviço Social. 
Embora amparada  por toda essa legislação federal, resultado das lutas dos assistentes sociais e das 
associações  profissionais  e  de  ensino  do  Serviço  Social,  a  profissão  custou  a  conquistar  o 
reconhecimento  da  sociedade.  As  dificuldades  encontradas  pelos  profissionais  na  valorização  do  seu 
trabalho estavam estreitamente ligadas às origens do Serviço Social e às imagens e estereótipos que se 
criaram  em  torno  de  suas  práticas.  As  atividades  do Serviço Social foram historicamente identificados 
com  práticas  confessionais  ou  estatais,  de  cunho  assistencialista  e  paternalista,  que  se  mostravam 
ineficazes diante dos desafios da miséria e do subdesenvolvimento. 
A dificuldade de delimitar sua competência específica diante de outros profissionais de áreas afins 
se  constituía  em  outro  entrave  ao  prestígio  profissional.  Na  medida  em  que  não  se  conseguia  um 
consenso no interior da própria profissão, tornava-se difícil obter a compreensão da população assistida e 
das instituições, que nem sempre respeitavam as prerrogativas profissionais do assistente social. 
Muitos dos problemas enfrentados pelos assistentes sociais brasileiros eram também sentidos pelos 
profissionais  da  categoria,  em  outros  países  sul-americanos.  A  aproximação  e  a  possibilidade  de 
intercâmbio  profissional  tornou-se  um  fato,  quando  a  América  Latina  começou  a  voltar-se  para  si 
mesma,  a  realizar  seminários  entre  os  países  do  Sul  do  continente  e  a  promover  estudos  sobre  seus 
problemas de desenvolvimento. 
Na busca de novas alternativas de ação aos desafios sociais, os Assistentes Sociais integraram-se ao 
projeto  desenvolvimentista,  realizando  experiências  significativas  de  organização  comunitária,  a  partir 
                                        
   BRASIL.  Leis,  Decretos,  etc.  Lei  1.889,  de  13  de  junho  de  1953,  que  dispõe  sobre  os 
objetivos  do  ensino  de  Serviço  Social  e ainda as prerrogativas dos portadores de diploma 
de Assistente Social; Decreto 35.311, de 8 de abril de 1954, que  regulamenta a lei 1.889; 
Lei  3.532,  de  agosto  de  1957,  que  regulamenta  o  exercício  da  profissão  de  Assistente 
Social; Decreto 994, de 15 de maio de 1962, que regulamenta a Lei 3.352, que dispõe sobre 
o  exercício  da  profissão  de  Assistente  Social  e  a  constituição  do  Conselho  Federal  de 
Assistentes  Sociais  –  CFAS  e  dos  Conselhos  Regionais  de  Assistentes  Sociais  –  CRAS; 
Lei 8862/93, de Regulamentação da Profissão. 
Da  década  de  50  do  século  XX.  Muitos  profissionais  da  área  se  envolveram,  igualmente,  nas  lutas  de sociedade  brasileira  pelas  Reformas  de  Base,  que  aconteceram  nos  anos  60  e  participaram  dos 
movimentos de Educação de Adultos e Cultura Popular. Com o golpe militar de 1964, esses Assistentes 
Sociais, como muitos brasileiros que lutaram pela transformação social, sofreram a repressão do regime. 
No  Brasil  pós-64,  as  alterações  no  modelo  econômico  haviam  redefinido  e  reforçado  seus  laços  de 
dependência  em  relação  aos  países  industrializados.  Os  investimentos  de  capital  estrangeiro  no  País 
permitiram,  entretanto,  uma  grande  dinamização  de  sua  economia,  com  conseqüente  reorganização 
administrativa, tecnológica e financeira. 
A  implantação  e  a  consolidação  desse  novo  modelo,  que  permitiu  a  acumulação  e  a  expansão 
capitalista,  eram  acompanhadas  de  novas  formas  de  controle  social  e  político.  Houve  repressão  das 
classes  trabalhadoras  e  contenção  dos  salários.  Como  mecanismo  compensatório,  foi  implantada  uma 
série de medidas de política social, sem consulta ou participação da classe trabalhadora. Nesse contexto, 
houve uma tendência  ao crescimento  da demanda de Assistentes Sociais, como agentes executores das 
políticas  sociais.  Desses  profissionais,  exigiram-se  especialização  em  políticas  sociais,  planejamento, 
administração de serviço, o que significava uma formação técnica e metodológica rigorosa e adequada 
ao mercado de trabalho. 
Essas exigências em relação ao Serviço Social se inseriam no processo mais amplo de modernização 
da  Educação,  considerada  uma  das  condições  básicas  para  o  processo  de  desenvolvimento  do  País. 
Tornara-se  urgente  a  formação  de  recursos  humanos  para  acelerar  o  desenvolvimento  científico  e 
tecnológico,  o  que  implicava  na  reorganização  de  todo  o  sistema  educacional,  com  base  na 
racionalização, eficiência e produtividade. 
Com  o  cerceamento  dos  movimentos  mais  amplos  de  mudanças  social,  após  64,  os  Assistentes 
Sociais se dedicaram com maior profundidade à crítica interna. Foram realizados importantes encontros 
profissionais, em níveis regionais, nacionais e latino-americanos, debatendo as questões profissionais e 
educativas  do  Serviço  Social.  A  partir  desses  encontros,  foram  se  definindo  novas  tendências  no  seu interior, tendo sido incrementada a produção intelectual e científica da área, em revistas, documentos e 
livros. 
O  relacionamento  mais  estreito  com  os  assistentes  sociais  latino-americanos  e  a  consciência  da 
existência  de  problemas  comuns,  desafiando  elementos  de  uma  mesma  profissão,  deram  origem  a 
Reconceituação  que  se  caracterizou  pela  crítica  radical  ao  sistema  vigente  e  às  formas  tradicionais  de ação, propondo novos enfoques teóricos e metodológicos. O movimento não era homogêneo, abrigando 
várias tendências no seu interior. Nascido na década de 60, cresceu na de 70 e serviu de estímulo para a 
produção de vários documentos na área, com importante contribuição para a revisão da teoria, da prática 
e do ensino de Serviço Social. 
Entre  as  propostas  apresentadas  por  esse  movimento  se  colocavam  as  seguintes:  adequação  do 
Serviço  Social  à  problemática  dos  países  latino-americanos,  tendo  em  vista  a  impossibilidade  de  se 
trabalhar numa realidade concreta, com desafios próprios e específicos, utilizando-se métodos e técnicas 
importados  de  outra  realidade;  definição  de  um  marco  teórico  referencial  para  a  prática  do  latino-americano;  busca  de  metodologia  adequada  às  exigências  dessa  realidade  e  que  pudesse  assegurar  a 
integração  teórico-prática  na  atividade  profissional;  produção  de  uma  literatura  que  refletisse  as 
respostas do Serviço Social à realidade latino-americana (Macedo, 1981). Esse movimento propunha a 
adoção de um referencial marxista de análise dos fenômenos sociais e a adoção de novas metodologias 
de ação, que levassem em conta a totalidade do social. 
A realização de práticas de numa perspectiva dialético-marxista vinha sendo tentada desde a década 
de 70. Nessa época, o movimento de Reconceituação apresentava uma nítida influência do pensamento 
de  Althusser  (1983).  De  acordo  com  essa  perspectiva,  as  instituições  eram  consideradas  aparelhos 
 ideológicos do Estado e “lugar de luta de classe pela direção da sociedade” (Althusser, 1983, p. 17), e o 
de Serviço Social , como “atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e na difusão da 
ideologia dominante” (Iamamoto e Carvalho, 1983, p. 23). 
Os  Assistentes  Sociais  e  os  acadêmicos  estagiários,  com  base  nesses  conhecimentos,  nem  sempre 
bem assimilados, passaram a adotar uma postura de negação da prática institucional, o que os colocava 
em  confronto  com  as  instituições.  Por  outro  lado,  crescia  a  participação  nos  movimentos  populares, 
dando-se ênfase à prática política. 
No  fim  da  década  de  70  e  início  dos  anos  80  do  século  XX,  o  movimento  começou  a  receber  a 
influência  de  Gramsci  (1986).  Instituição  passou  a ser considerada  como espaço  contraditório, em que 
circulavam  as  ideologias  e  em  que  se  podiam  aproveitar  os  espaços  para  a  divulgação  de  novas 
concepções de mundo, para minar as estruturas, abalar a hegemonia das classes dominantes e tentar uma 
nova estrutura societária. 
As concepções de Gramsci (1986) serviam de estímulo, numa época de transição democrática e em 
que se pretendiam ocupar todos os espaços possíveis, para dar uma contribuição efetiva ao processo de 
libertação do autoritarismo e à luta pelos direitos de cidadania. A prática institucional foi revalorizada, 
mas  se  buscavam  novas  formas  de  participação  da  população  nos  programas  institucionais  e  sua 
articulação com os movimentos populares. 
O  novo  desafio  consistia  em  construir  teorias  a  partir  dessas  práticas,  buscando-se  a  definição  da 
especificidade  da  prática  do  Serviço  Social,  em  meio  a  outras  práticas  sociais.  Na  década  de  70, 
continuaram,  com  maior  vigor,  os  questionamentos  em  relação  à  formação  para  o  Serviço  Social, 
articulados  às  críticas  à  Educação  e  à  Universidade.  Apesar  de  todo  o  aparato  policial  repressor, 
surgiram  novos  movimentos  sociais  de  reivindicação  salarial,  que  se  ampliaram,  assumindo  caráter 
contestatório  em  relação  às  condições  sociais  e  políticos  de  País.  No  fim  da  década  de  70  do  século passado  e  início  da  seguinte,  junto  com  os  movimentos  sindicais,  cresceram  as  reivindicações  dos moradores  de  vilas  e  bairros,  e  se  fortaleceram  as  comunidades  eclesiais  de  base.  Setores  da  classe começaram  também  a  se articular  no sentido de fazer  oposição ao regime político em vigor. Crescia a pressão pela volta da democracia, que tornasse possível o exercício da cidadania 
Pelos  fins  da  década  de  80,  com  a  redemocratização  do  País  e  com  a  nova  Constituição  (Brasil, 
1988) ocorreu uma importante mudança na área do Serviço Social, que acompanha todo um movimento 
da  sociedade  brasileira.  As  políticas  sociais  passaram  a  direcionar-se  para  a  universalização  e  garantia dos direitos sociais, para a descentralização político-administrativa e para a participação popular. 
Os  assistentes  sociais  passaram  a  se  questionar  sobre  os  rumos  da  ação  profissional,  face  à 
rearticulação dos movimentos populares e das organizações da sociedade civil. Discutiam-se a formação 
profissional e a relação da prática com os conhecimentos teóricos veiculados. 
A expansão do ensino superior no País, em função do modelo econômico e da política educacional, 
atingira igualmente o Serviço Social, constatando-se um aumento significativo do número de matrículas 
em  nível  nacional.  A  grande  oferta  de  assistentes  sociais  repercutira  no  mercado  de  trabalho, 
constatando-se  a  depreciação  dos  salários  e  o  desemprego.  Além  da  concorrência  entre  assistentes 
sociais,  outros  profissionais  e  subprofissionais  de  áreas  afins  passaram  a  disputar  o  mercado  da  área 
social, anteriormente afeto quase que exclusivamente ao Serviço Social (Pinto, 1986). 
Os  questionamentos  sobre  o  Serviço  Social,  como  disciplina  profissional,  profissão  e  prática 
educativa,  foram  levados  aos  encontros  regionais  e  às  convenções  nacionais  da  então  Associação 
Brasileira  de  Ensino  de  Serviço  Social  (ABESS)  e  foi  elaborada  uma  nova  proposta  de  formação 
                                      
   A  partir  de  1998,  a  ABESS  passou  a  denominar-se  Associação  Brasileira  de  Ensino  e 
Pesquisa em Serviço Social – ABEPESS. 
 profissional que, após a aprovação pelo Conselho Federal de Educação, foi sendo implantada a partir de 
1984, em todas as Unidades de Ensino do País. 
Na década de 90, discutia-se no Serviço Social a conjuntura brasileira, face às mudanças no cenário 
mundial:  a  globalização  da  economia,  o  neoliberalismo,  a  reestruturação  produtiva,  o  desemprego,  o 
aprofundamento da desigualdade social e o aumento da exclusão social, em nossa sociedade, que causam 
uma  crescente  precarização  da  qualidade  de  vida  de  vários  segmentos  da  sociedade.  Essa  realidade 
propunha ao profissional de Serviço Social novos desafios, que deviam ser enfrentados no cotidiano de 
sua prática profissional, pois as “modificações estruturais vividas pela sociedade brasileira, rebatem 
diretamente  no  conjunto  de  segmentos  que  configuram  a  clientela  ou  os  usuários  dos  serviços 
profissionais” (Quiroga, 1999, p. 159). 
Passados  dez  anos  da  implantação  da  proposta  curricular  anterior,  compreendeu-se  que  se  fazia 
necessária,  mais  uma  vez,  uma  profunda  revisão  da  formação  profissional,  e  iniciou-se,  em  1994,  um amplo processo de reavaliação do currículo vigente, em encontros promovidos pela ABESS em todo o 
Brasil.  De  1994  a  1996  foram  promovidas  cerca  de  200  oficinas  locais  nas  67  unidades  acadêmicas filiadas à ABESS, 25 oficinas regionais e duas nacionais. Uma nova proposta de formação foi elaborada, aprovada  em  Assembléia  Nacional  da  ABESS  e  encaminhada  ao  Conselho  Federal  de  Educação.  Os cursos  foram  promovendo  estudos  para  a  elaboração  dos  currículos  plenos  e  implantação  do  Novo Projeto de Formação Profissional, de acordo com as Diretrizes Curriculares. 
A proposta centra-se na questão social, “entendida no âmbito da produção e reprodução da vida que 
tem no trabalho o seu elemento fundante” (ABESS/CEDEPS, 1996). São diretrizes curriculares da 
formação  profissional:  capacitação  teórico-metodológica,  ético-política  e  técnico-operativa.  Isso 
significa  que  o  curso  de  Serviço  Social  deverá  oportunizar  um  aprofundamento  teórico,  histórico  e 
metodológico  da  realidade  social  e  do  próprio  Serviço  Social.  O  profissional  em  formação  deverá 
apreender o significado social da profissão e ser capaz de compreender os problemas e desafios impostos 
pela  realidade  social.  Deverá  também  ser  capaz  de  formular  respostas  profissionais  e  de  exercer  a 
profissão, levando em conta as competências e atribuições previstas no Código de Ética Profissional em 
vigor. 
 6.  Apoio às lutas da profissão e aos seus questionamentos 
 A inserção do Serviço Social na sociedade e sua associação às lutas e movimentos políticos sempre 
foi  uma  característica  da  profissão,  desde  os  primeiros  tempos,  sempre  que  se  tratava  de  questões 
sociais. Cita-se como exemplo, mais recente, a grande participação dos Assistentes Sociais na discussão 
e  na  aprovação  da  Lei  da  Assistência  (LOAS,  1993)  e  na  Municipalização  da  Assistência.  Foram 
promovidos  seminários  locais,  estaduais,  regionais  e  nacionais,  envolvendo  profissionais  do  Serviço 
Social,  de  outras  profissões  da  área  de  Bem-Estar  Social,  políticos,  detentores  de  cargos  públicos 
eletivos e a população em geral. Houve também árduo trabalho junto ao Senado, ao Congresso Nacional, 
Assembléias  Legislativas  Estaduais  e Câmaras Municipais de Vereadores, na tentativa de se conseguir 
leis que trouxessem o máximo de benefícios à população. 
Na  busca  de  solução  para  os  problemas  teórico–metodológicos  ou  de  natureza  interventiva,  que 
foram sendo enfrentados ao longo da história ou em lutas de caráter político, os profissionais do Serviço 
Social  sempre contaram  com o apoio de diversos órgãos que, em diversos patamares, representavam  a 
profissão  ou  seus  profissionais.  Esses  problemas  e  demais  questionamentos  foram  sendo  levados  aos 
vários  eventos  internacionais,  sul-americanos  e  brasileiros,  que  serviam  de  fóruns  de  discussão.  Entre 
esses  organismos  situam-se  órgãos  federais  e  estaduais  específicos  do  Serviço  Social  como:  Conselho Federal de Serviço Social – CFESS e os Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS; Associação 
 Brasileira  de  Ensino  e  Pesquisa  em  Serviço  Social  –  ABEPESS;  Associação  Nacional  de  Assistentes 
Sociais  –  ANAS;  Associações  Profissionais  –  AP  ;  Sindicatos;  Centro  Brasileiro  de  Cooperação  e 
Intercâmbio  de  Serviços  Sociais  –  CBCISS.  Entre  os  organismos  latino-americanos  citam-se: 
Associação Latino-Americana de Ensino de Serviço Social – ALAESS e o Centro Latino-Americano de 
Trabalho Social – CELATS. 
Dentre  os  organismos  brasileiros  de  apoio  à  pesquisa  destacam-se  alguns  citados  anteriormente, 
como  o  Conselho  Nacional  de  Desenvolvimento  Científico  e  Tecnológico  (CNPq);  a  Coordenação  e 
Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Mas tem sido muito significativa também a 
colaboração das fundações de amparo à pesquisa dos vários Estados, como por exemplo, a Fundação de 
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e a Fundação de Amparo à Pesquisa 
do Estado do Estado de São Paulo (FAPESP) além de outros órgãos como o Financiamento de Estudos e 
Projeto (FINEP) e o Instituto Nacional de Estudos e Projetos ( INEP). 
As  revistas,  livros  e  outras  documentações  também  deram  importantes  contribuições  ao 
processo  de  problematização,  crítica,  lutas  e  mudanças  no  Serviço  Social.  Podem  ser  citados,  entre 
tantos: a Revista de Serviço Social, a Revista Debates Sociais e as coleções documentárias do CBCISS 
(Cadernos Verdes); a Revista Serviço Social e Sociedade; as edições de livros de Serviço Social pelas 
editoras  Cortez,  Vozes,  Brasilense,  Agir,  Edipucrs  e  outras,  que  cresceram  muito  nas  últimas  décadas, 
refletindo, principalmente, a produção dos cursos de Pós-Graduação brasileiros, em especial os cursos de 
Serviço  Social;  as  revistas  latino-americanas  Acción  Critica,  Hoy  en  el  Trabajo  Social  e  todas  as 
publicações  da  Ecro  e  da  Humanitas,  divulgando  as  reflexões  e  as  experiências  de  países  da  América Latina. 

Considerações finais 

Para discutir-se a relação entre questão social e Serviço Social no Brasil, estudou-se a intensificação 
do  processo  de  industrialização  no  país,  após  a  Revolução  de  1930  e  o  conseqüente  acirramento  das relações  sociais  próprias  do  sistema  capitalista  que  culminaram  com  o  agravamento  da  questão  social. Nesse  contexto  nasceu  o  Serviço  Social  e  se  desenvolveram  os  primeiros  campos  de  trabalho  da  nova profissão.  Foram  estudadas  neste  trabalho  as  origens  históricas  da  profissão  e  o  contexto  histórico, social,  político  e  econômico  da  sociedade  brasileira,  em  que  o  Serviço  Social  sempre  esteve  inserido. Deu-se ênfase à análise das várias configurações da questão social no Brasil, desde a década de 30, do século XX, quando o Serviço Social foi aqui implantado e as tentativas de enfrentamento dos problemas a ela relacionados, através da implantação de políticas sociais. Num processo de avanços e recuos, que acompanhou  o  movimento  dinâmico  da  história  e  enfrentando  muitos  desafios,  essa  profissão institucionalizou-se  em  solo  brasileiro,  ocupando  seu  espaço  na  divisão  social  do  trabalho,  próprio  de uma sociedade capitalista. 
Durante esse tempo, como está escrito no Código de Ética Profissional do Assistente Social, ocorreu 
um “profundo processo de renovação” no Serviço Social, que acumulou experiências profissionais, 
desenvolveu-se “teórica e praticamente, laicizou-se, diferenciou-se” e hoje “apresenta-se como profissão 
reconhecida academicamente e legitimada socialmente” (CFAS, 1993, p. 9). No meio acadêmico, após 
uma  profunda  revisão  da  formação  profissional  e  amplo  processo  de  discussão  do  currículo  vigente, 
promovido pela Associação  Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, foram propostas novas 
Diretrizes  Curriculares  de  Formação  Profissional  para  o  Serviço  Social,  que  estão  em  implantação  no Brasil. 
Continuam,  entretanto,  os  questionamentos  em  relação  ao  Serviço  Social,  suas  possibilidades  e 
limites,  frente  aos  desafios  do  mundo  contemporâneo.  De  que  forma  essas  transformações  têm 
repercutido na profissão? Como foram enfrentados os desafios, em seu desenvolvimento histórico, e qual 
é  o  seu  futuro?  Como  preparar  a  nova  geração  de  Assistentes  Sociais  para  os  campos  de  trabalho 
tradicionais,  em  processo  de  mudança,  e  para  os  campos  emergentes?  O  objetivo  da  reconstituição 
histórica do Serviço Social na sociedade brasileira, foi o de contribuir para os debates atuais da profissão 
e  de  buscar  respostas  aos  seus  questionamentos  em  relação  às  mudanças  projetadas  para  este  novo 
milênio.   

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